ormalmente, jogado fora e considerado descarte, o soro lácteo, proveniente da fabricação do queijo, e o leitelho, co-produto obtido após o processamento da manteiga, passam a ser aproveitados na produção de alimentos funcionais, aqueles que produzem efeitos benéficos ao sistema nervoso, gastrointestinal e cardiovascular, além de suas funções nutricionais básicas. Trabalho inédito no Brasil está sendo desenvolvido pela equipe do médico veterinário professor. dr. Edmar Soares Nicolau, do Centro de Pesquisa em Alimentos (CPA) da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (UFG), dentro do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade. O assunto foi abordado no último Seminário de Responsabilidade Técnica com o tema Indústria Láctea no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-GO), em Goiânia.
O que é descartado na indústria láctea, ao ser reaproveitado, disponibiliza uma riqueza de nutrientes com propriedades funcionais importantes. Além disso, promove o desenvolvimento sustentável, que engloba a esfera econômica, social e ambiental. O reaproveitamento desses co-produtos confere benefícios para a indústria de queijo e manteiga, por viabilizar um destino adequado e lucrativo para resíduos industriais, que causam grandes danos ao meio ambiente. Também beneficia aquelas indústrias que querem processar esses co-produtos por terem acesso à matéria-prima de baixo custo para fabricação de alimentos com alto valor agregado. Os consumidores, que terão acesso a um produto com características nutritivas e funcionais valiosas, também são os grandes beneficiados.
PRODUTOS DESENVOLVIDOS
O trabalho científico, que envolve médicos veterinários, zootecnistas, engenheiros agrônomos e engenheiros de alimentos, é desenvolvido há três anos no CPA. Já foram desenvolvidos produtos inovadores e sustentáveis como a bebida láctea fermentada saborizada com polpa de araticum e bebida láctea fermentada acrescida de leitelho e aromatizada com cagaita. Estão em execução outros projetos inovadores como a fabricação de bebida láctea fermentada com gabiroba que utilizará o leite de manteiga em sua composição, bebida kefir com mangaba e um sorvete funcional aromatizado com polpa de cagaita, que apresentará o creme de leite e prebiótico na composição.
Tanto o soro lácteo quanto o líquido seroso são matérias-primas com importantes funcionalidades e apresentam custo baixíssimo para a indústria láctea. O Brasil é o terceiro maior produtor de queijos do mundo, portanto, existe soro lácteo em abundância no mercado brasileiro. Recentemente o consumo de manteiga voltou a subir, logo o volume de leitelho produzido também apresenta crescimento. Esses co-produtos são pouco explorados comercialmente, mas possuem características nutricionais, funcionais e tecnológicas importantes.
SORO LÁCTEO
O soro lácteo apresenta boa digestibilidade, baixa caloria e se destaca por sua fração protéica, rica em aminoácidos essenciais que atuam no cérebro, por meio de antioxidantes. Ainda possui ação positiva sobre absorção de minerais, anabolismo muscular, redução de gordura corporal nos tecidos adiposos, além de apresentar propriedades antimicrobianas e antivirais. Vale ressaltar que não há gastos com a produção do soro lácteo, já que o custo está incluso no processo da fabricação de queijos. Atualmente o soro lácteo é utilizado basicamente para garantir a textura de bebidas lácteas, no entanto é subaproveitado em relação ao seu valor nutricional e funcional.
LEITELHO
Já o leitelho ou leite de manteiga é 100% descartado pela indústria. Muitas vezes esse descarte é feito de forma incorreta gerando grandes prejuízos ao meio ambiente, em virtude da sua elevada Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), “altamente poluente”, como explica a médica veterinária Renata Teixeira Pfrimer, que também participa da pesquisa. Esse tipo de resíduo com alta DBO retira o oxigênio do ambiente onde for descartado, prejudicando fauna e flora da região.
O leitelho apresenta importância nutricional, funcional e tecnológica. Trata-se de um co-produto que confere propriedades regulatórias no organismo, tem funções estruturais, auxilia a imunidade, ajuda na absorção e transporte de ácidos graxos e apresenta propriedades antimicrobianas. É importante elemento na recuperação do fígado contra lesões provocadas por compostos químicos como fármacos, álcool e intoxicações e por doenças virais agudas ou crônicas. Constitui fonte de colina, que atua no desenvolvimento cerebral. O creme de leite também é um excelente emulsificante, melhora o sabor, aroma e textura dos alimentos. Da mesma forma que o soro lácteo, não há gastos com a produção do leitelho, já que o custo está incluso no processo da fabricação da manteiga.
FRUTOS DO CERRADO
Os frutos do Cerrado escolhidos pelos pesquisadores não servem apenas para saborizar os produtos. Eles apresentam rico valor nutricional e funcional. A gabiroba e a cagaita, por exemplo, são fontes de vitamina C, A, B2, cálcio, magnésio, ferro, ácidos graxos essenciais, além de terem potencial antioxidante. São encontrados fartamente no Cerrado, entretanto, são plantas pouco exploradas comercialmente. Caso os projetos ganhem escala industrial, as plantações comerciais de frutos do Cerrado podem gerar emprego e renda para milhares de pessoas e ainda colaborar na preservação do bioma.
Os projetos do CPA da UFG foram aceitos no maior congresso lácteo do mundo, organizado pelo American Dairy Science Association, que acontece entre 24 e 27 de junho, em Knoxville, Tennessee (EUA). Serão apresentadas três pesquisas sobre tecnologia na fabricação de derivados lácteos funcionais.
As pesquisas atendem os objetivos da Agenda 2030, determinada pelos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU). “Trata-se de produtos inovadores e sustentáveis, com visão de crescimento global”, enfatizou o médico veterinário Edmar Soares Nicolau, que arremata ao dizer que os produtos estão diretamente ligados a seis dos 17 objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. De Goiás para o mundo.
Investir na qualidade é fundamental para pecuarista, recomenda Assocon
O gestor do agronegócio, Abel Leopoldino,afirma que o investimento na produção agropecuária está “antecipando oportunidades aos confinadores e à
pecuária intensiva como um todo”
Experiente gestor do agronegócio, Abel Leopoldino, 56, é diretor de um dos mais conceituados grupos de produção animal. Pecuarista desde de 1975, além de comandar o Grupo Leopoldino, com sede em São Carlos (SP). Abel é um dos vice-presidentes do Conselho de Administração da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon).
“Nós não trabalhamos apenas para defender os interesses dos associados e representá-los junto aos órgãos públicos e privados. Vamos além disso. Incentivamos o aumento contínuo da qualidade e da eficiência da produção pecuária, alinhando as demandas de mercado – cada vez mais exigente – e antecipando oportunidades aos confinadores e à pecuária intensiva como um todo. Nossa missão também é interpretar os desafios do mercado e transformá-los em valiosas estratégias de crescimento”, explica Leopoldino.
Ele possui quatro propriedades rurais: duas na região de Água Boa (MT), uma em Paranatinga (MT) e a matriz do grupo, em São Carlos (SP). A empresa investe na criação de gado Brahman e de Cavalo Árabe, sendo uma referência no Brasil nas duas atividades. A fazenda Santa Maria (Paranatinga, MT) tem 20.600 hectares e é destinada à produção de bezerros de alta qualidade, além de investir na integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF).
“Esta é uma fazenda ainda em formação, mas tem muito potencial. Hoje já possuímos seis mil matrizes e trabalhamos para ter plantel oito mil vacas. Também investimentos em grãos, com 4,2 mil hectares de soja e milho plantados, além de 800 hectares de eucalipto. Logo dobraremos o rebanho e também as áreas de lavoura, gerando maior sinergia entre as atividades de agricultura e pecuária”, relata.
GENÉTICA
A Fazenda e Haras Canaã tem como foco principal a genética, e investe no melhoramento das raças Brahman, Nelore e Cavalo Árabe. Como prova deste empenho, o grupo foi premiado durante a 84º edição da ExpoZebu, como um dos vencedores do grande campeonato com o touro Beduíno FIV da Canaã, uma parceria entre o Nelore Canaã e Nelore Paranã. O touro Beduíno, já se encontra em central de coleta e em breve estará disponibilizando material genético a todos os criadores.
Ele explica que a receita para o sucesso é trabalhar muito, investir em tecnologias para atingir elevado nível de produtividade, mas sem esquecer a qualidade dos produtos. “Nosso diferencial é produzir cada vez mais, utilizando menos espaço, mas sem nos desviar do nosso foco principal: ofertar produtos de mais qualidade. Nosso compromisso é com a satisfação de nossos clientes”, diz.
O pecuarista também destaca a importância das ações de entidades, como a Assocon, que atuam em prol do fortalecimento da pecuária e dos produtores. “A Assocon está envolvida em muitas ações positivas para a atividade. Identificamos as necessidades de toda a cadeia produtiva. Por isso, estamos presentes em diversos fóruns de discussão, simultaneamente. Nosso objetivo principal como representantes dos pecuaristas é contribuir com ideias e trabalho não apenas para o avanço da atividade como um todo, mas obter reconhecimento da classe perante os órgãos públicos e privados”.
Sobre o mercado de carne bovina em 2018, Abel Leopoldino reconhece que a atividade pecuária tem experimentado dificuldades. “Desde os escândalos ligados à operação Carne Fraca no ano passado, a atividade busca se reerguer dos prejuízos de imagem gerados erroneamente e luta para superar os demais desafios do mercado, investindo em produtividade e no aumento da qualidade, É isso que dá o suporte necessário ao sucesso dos projetos pecuários”, conclui.
Uso de drones avança cada vez mais na agropecuária goiana
O uso de drones está crescendo cada vez mais na agricultura. O interesse dos produtores rurais se explica em dois fatores: produtividade e custo
O uso de Veículos Aéreos Não Tripulados (Vant’s), mais conhecidos como drones, está crescendo cada vez mais na agricultura. O interesse crescente de produtores rurais pela tecnologia se explica pela influência positiva em dois fatores essenciais para a atividade: produtividade e custo. O equipamento capta imagens que permitem conferir in loco, por exemplo, quais áreas têm doenças ou pragas. Mas para utilizar esse equipamento, é preciso ter conhecimento, prática e habilidade. Uma forma de conseguir se informar melhor é por meio da qualificação profissional. Por esse motivo, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar) formatou um treinamento voltado para a pilotagem de drones.
A carga horária é de 24 horas. O conteúdo envolve assuntos sobre a segurança e saúde do trabalhador; fundamentos e aplicações do drone; partes básicas do drone; procedimentos de voo (regulamentação e orientações) e técnicas de vôo com drones. O treinamento, assim como todos os ofertados pelo Senar Goiás é totalmente gratuito.
ORIENTAÇÃO
Segundo o instrutor do Senar Goiás e sócio co-fundador da Hover Drone Br, Gustavo Ferreira de Morais–que atua neste segmento -, diz que é importante conhecer as principais práticas de conservação e monitoramento de drone, como fazer um vôo seguro e que legislações devem ser atendidas para operar com drone regulamentado. Ele acrescenta que existem no mercado dois equipamentos (Vant/Drone) usados para mapeamento aéreos, que são Asa Fixa e Multirrotor.
Gustavo informa ainda que é necessária essa busca por qualificação, porque muitos erros são cometidos no uso do drone em campo. Entre os principais estão falta de manutenção no equipamento, uso e armazenamento incorreto das baterias, vôo em áreas indevidas, vôo fora do campo de visão e prática de vôo sem treinamento. “É necessário sempre realizar a manutenção preventiva, dando uma atenção especial para a bateria, e realizar vôos segunda as normas de segurança descritas nos manuais da Anac”, diz. Sobre valores, ele acrescenta que são equipamentos com valores variáveis, mas quanto mais profissional, maior o valor. “É necessário avaliar quais serviços serão realizados”, destaca.