O plantio de soja na safra 2018/19 do Brasil deve crescer pelo 12º ano seguido e atingir novo recorde, superior aos 36 milhões de hectares, em meio a uma demanda robusta e margens ainda firmes, embora uma série de incertezas deixe o setor em alerta para potenciais revisões nas estimativas já divulgadas, mostrou uma pesquisa da Reuters nesta terça-feira.
Conforme o levantamento com nove consultorias e entidades, a semeadura no maior exportador global da oleaginosa, que tem início em setembro, deve alcançar 36,28 milhões de hectares, alta de 3,2 por cento ante 2017/18.
A expansão de área nos últimos 12 anos foi de em média cerca de 5 por cento ao ano, sendo que o maior incremento se deu em 2012/13, com 10,7 por cento.
“Entre os fatores que vemos para esse novo aumento de área da soja (em 2018/19)… podemos citar os efeitos da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que tem resultado em certa manutenção dos preços da soja brasileira para exportação… O câmbio também tem dado suporte aos preços da soja em reais”, afirmou o analista do departamento de Pesquisa e Análise Setorial do Rabobank Brasil, Victor Ikeda.
Uma escalada de tensões entre as duas maiores economias do mundo neste ano culminou com Pequim taxando as importações de soja dos Estados Unidos, o que levou a China, maior compradora mundial da commodity, a se voltar ainda mais à oferta brasileira.
Os prêmios do produto nacional chegaram a disparar para 2 dólares por bushel, ao passo que a apreciação da moeda norte-americana ante o real tem compensado o enfraquecimento dos preços na Bolsa de Chicago (CBOT), que já caíram cerca de 7 por cento em 2018.
Mas esse mesmo dólar, com alta de quase 20 por cento neste ano, tende a puxar os custos na temporada.
“A desvalorização do real deverá elevar os custos de produção, em média, em 10 por cento para a próxima safra, com destaque para o forte aumento dos preços de fertilizantes e químicos”, resumiu a consultoria Céleres, que prevê plantio de 36,2 milhões de hectares e rentabilidade operacional média de 1.191 reais por hectare em 2018/19.
“Apesar de ser menor que a rentabilidade efetiva na safra 2017/18, as margens projetadas se mostram elevadas e deverão incentivar o aumento de área por parte do produtor”, ponderou.
Mesmo assim, há no radar do setor incertezas ainda capazes de jogar para baixo as perspectivas de plantio.
Enquanto o cenário eleitoral deve provocar volatilidade no câmbio nas próximas semanas, indefinições quanto aos custos com fretes, tabelados após os protestos de caminhoneiros, têm prejudicado as vendas antecipadas da safra.
“Nas últimas semanas, a comercialização da safra nova poderia ter andado um pouco mais, só que isso não aconteceu, em parte devido às incertezas em relação à situação do frete em 2019”, destacou Steve Cachia, da Cerealpar.
Mais recentemente, uma decisão judicial suspendendo o registro de glifosato levantou dúvidas quanto ao uso do herbicida, presente há décadas no Brasil, na safra 2018/19 de soja.
“Entre fatores que podem levar a alterações no cenário-base que estamos considerando atualmente estão a questão do frete e a discussão sobre o uso do glifosato na próxima safra… Nesses dois casos, em caso de manutenção das medidas em vigor, há possibilidade de revisarmos os números levemente para baixo, principalmente no que se refere à projeção área”, afirmou Ikeda, do Rabobank, que prevê semeadura de 36,7 milhões de toneladas.
PRODUÇÃO
Por enquanto a expectativa é de uma colheita levemente maior na comparação com 2017/18, atingindo também históricos 119,76 milhões de toneladas, aumento de 0,65 por cento.
“Em termos de produtividades, nossos primeiros números naturalmente indicam rendimentos médios inferiores aos da última safra, que foi praticamente perfeita em todo o país. Nada impede a repetição destas grandes produtividades, mas para isso o clima deverá ser novamente muito favorável. Alertamos para a possibilidade crescente do fenômeno El Niño ser confirmado no verão sul-americano”, disse o consultor, Luiz Fernando Roque, da Safras & Mercado.