Por Caroline Mendes, de São Paulo (SP)
A carne suína está presente em 75% dos lares brasileiros. Porém, a frequência de consumo e o volume ainda são baixos frente às outras proteínas de origem animal. Durante o lançamento da Semana Nacional de Carne Suína (SNCS), realizado em 13 de setembro, a diretora de Desenvolvimento de Negócios da Kantar WorldPanel, Tathiane Frezarin Martins, apresentou ao setor suinícola uma série de dados com os hábitos de consumo dos brasileiros relativos a carne suína, mostrando que ainda há espaço para crescer no varejo. A pesquisa foi encomendada pela Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).
No cenário atual, quando se fala em orçamento doméstico, é sabido que houve uma queda real nos últimos dois anos. Isso fez com que as famílias passassem a ter de escolher o que continuariam consumindo, se adequando a esse novo orçamento. Numa perspectiva geral, os consumidores têm optado em comprar produtos em unidades ao invés de itens em peso e litros. Além disso, tem ido com menor frequência às compras e tem visitado mais estabelecimentos à procura do melhor custo-benefício.
Mas, o consumidor não está procurando somente o mais barato. Segundo Thatiane, as categorias que ganharam maior penetração no mercado são as que trazem valor agregado ao produto, ou seja, mesmo com o bolso apertado, se o consumidor vê praticidade ou saudabilidade no item procurado, ele compra. “Por isso neste momento é muito importante comunicar aos compradores a qualidade e os benefícios dos produtos para conquista-los”, afirma a diretora da Kantar.
De maneira geral, os brasileiros consumiram 434 mil toneladas de carne suína entre junho de 2017 e julho de 2018. Cada vez que o brasileiro compra carne suína é em média 1,4 kg. A frequência de compra é de 7,5 vezes ao ano, gastando em média R$ 19,27. Nesses dados constam as carnes in natura mais o bacon, sendo que 400 mil são as carnes in natura e o restante corresponde ao bacon, que representa 7% do total comprado. Se comparar com a linguiça e o frango, no último ano, 89% dos lares compraram linguiça e quase 100% compraram frango. “Por isso, é necessário um trabalho para comunicar e estimular o consumo dos demais cortes, são neles que estão as oportunidades de crescimento do mercado”, reforça Tathiane.
Olhando para o consumo de cada corte, percebe-se que a bisteca é o que chega a mais mesas, com 67% de penetração no mercado. No caso do pernil, este índice cai para 37,4%, muito próximo dos 35% relativos ao bacon e a costela e o lombo, que chegam a apenas 15%. Para Tathiane Frezarin, é nesses cortes que o consumo de carne suína tem oportunidades para crescer. “O destaque ainda é a bisteca, que no preço médio é o corte de menor valor; e aqui temos outro desafio: como indústria, produtores e varejo irá comunicar para o consumidor o maior preço dos outros cortes. Então, temos que mostrar os benefícios.”, explica.
Quando a linguiça e o presunto são incluídos no ranking, o mercado consumidor de suínos quase dobra, pois 50% do mercado corresponde exatamente à linguiça e o presunto por outros 9%. Estes segmentos já são trabalhados pelo varejo, agora é necessário trabalhar os cortes in natura para se chegar a uma divisão mais justa dos demais segmentos.
DISTRIBUIÇÃO DE CONSUMO PELO PAÍS
Além das oportunidades nos cortes, nos dados referentes ao consumo por região, percebem-se oportunidades em Estados que ainda não tem o hábito de consumir a proteína. A pesquisa da Kantar divide o Brasil em sete regiões: Norte mais Nordeste; Minas Gerais, Espirito Santo e interior do Rio de Janeiro correspondem ao Leste; Grande Rio; Grande São Paulo; Interior e litoral de São Paulo; Centro-Oeste e Sul.
A análise por região mostra que Minas Gerais é o Estado que mais contribui com o consumo de carne suína. Dos 26% consumidos pela região Leste, 19% é somente de Minas Gerais. Em contrapartida, o Norte e Nordeste consomem apenas 7% do total do país. Desta forma, é uma região na qual há muita oportunidade para entrada do suíno, e, novamente, é necessário pensar em como inserir a carne suína nas refeições dessa população.
Na comparação entre canais de venda, observa-se que 60% dos cortes suínos são comprados em super e hipermercados em opções mais fracionadas e embaladas. Já no varejo tradicional (mercearias, pequenos mercados) são adquiridos apenas 16% e nos açougues somente 5%. Isso demonstra a procura por praticidade, devido ao pouco tempo, e também a menor quantidade, devido a famílias cada vez menores. Tudo isso tem impactado o consumo.
E como estimular o consumo de todos os cortes? Apesar do cenário incerto, quando o consumidor vê valor, ele adquire o produto. Uma estratégia apontada pela Kantar é utilizar ideias já aplicadas em outros mercados, como, por exemplo, informar nas embalagens o baixo teor de sódio e de gorduras, pensar em cortes e embalagens que facilitem o dia a dia e ter o produto adequado a cada canal de venda. “É relevante conhecer o comprador de cada tipo de loja para ter o sortimento adequado, para disponibilizar os cortes da forma que atenda os consumidores e comunicar o valor do produto, pois se mostrar o valor, o consumidor topa fazer parte, e para o suíno tem muitas oportunidades comparadas aos outros tipos de carne; tem potencial de ganhar mais mercado”, conclui Thatiane.
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