Um dos maiores produtores e consumidores de carne do mundo, os Estados Unidos vivem cenas traumáticas na cadeia de suprimentos – com animais sacrificados nas granjas e produtos escassos em gôndolas de supermercados e restaurantes de fast foods.
O calvário foi provocado pela diminuição na capacidade de abate após o fechamento temporário de quase 40 frigoríficos devido a surtos de coronavirus entre trabalhadores, desde o começo de abril.
Com a oferta de carne reduzida no mercado interno, associada a incerteza global causada pela pandemia, projeções indicam desaceleração das exportações de carnes – que até então vinham batendo recorde.
O retrato mais cruel dos efeitos da Covid-19 na produção nos Estados Unidos é visto na criação de suínos. Com lotes prontos para o abate e sem ter para onde entregar, produtores são obrigados a sacrificar animais. Soma-se a isso a necessidade de abrir espaço para os leitões que nascem.
Mesmo com a reabertura gradual dos frigoríficos em maio, após o presidente Donald Trump invocar a Lei de Proteção de Defesa para manter as plantas abertas, o banco cooperativo CoBank estima que produtores serão obrigados a sacrificar 7 milhões de suínos até o final do segundo trimestre. “Apesar dos frigoríficos estarem aumentando a capacidade de abate aos poucos, ninguém sabe quando voltaremos à capacidade total”, acrescenta Monroe.
Enquanto esperam a normalização dos abates, produtores buscam maneiras de retardar o crescimento dos suínos, aumentando a temperatura das granjas para os animais comerem menos ou alterando a composição da ração para torná-la menos apetitosa.
O Estado de Iowa, principal produtor de carne suína do país com cerca de um terço do mercado, deve sacrificar 600 mil animais até o final de junho, segundo projeções de autoridades oficiais.
“Porcos não são uma mercadoria armazenável como grãos ou ajustável como uma usina de etanol. O cronograma é biológico. Para a produção de carne suína, da fazenda ao varejo, leva-se em média cerca de 10 meses e, em seguida, novo ciclo começa com o nascimento de novos animais”, explica o economista agrícola Lee Schulz, professor da Universidade do Estado de Iowa.
Concentração
Parte dos problemas é causada pela concentração do mercado americano, acrescenta o especialista. Cerca de 60% da carne suína produzida pelo país é processada em 15 frigoríficos.
A crise afetou principalmente produtores que geralmente enviam os animais para grandes frigoríficos, como Tyson Foods, que teve quase 6 mil trabalhadores infectados em suas unidades. Na maior unidade de processamento da compahia no país, em Waterloo, Iowa, pelo menos 1.031 de trabalhadores testaram positivo para o coronavírus ou para anticorpos da doença.
Além dos prejuízos pelo sacrifício e descarte dos animais, os produtores acumulam perdas com a queda de preço do produto nos últimos meses. Desde o início do ano, o valor da carcaça paga ao criador caiu quase 40%, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).
O cenário deverá levar os produtores a perderem mais de US$ 5 bilhões neste ano, conforme estimativa do Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína.
Fonte: Revista Globo Rural