De acordo com pesquisador da Embrapa, produtores que não se adaptarem às exigências cada vez mais rigorosas do mercado darão lugar às corporações altamente tecnificadas.
Metade dos bovinocultores de corte que estão em atividade hoje podem deixar o campo até 2040. A conclusão, que aparece em um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Corte, revela, entre outras coisas, que muitos negócios aparentemente estáveis podem não perdurar ante os desafios das próximas duas décadas.
Um dos motivos para a projeção é o êxodo rural. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre 2006 e 2017, aproximadamente 1,5 milhão de produtores abandonaram a atividade, entre eles muitos pecuaristas. Estruturas de produção antiquadas afastam os jovens, impedindo a sucessão no comando da fazenda.
Mas muitos pecuaristas podem ser excluídos por problemas financeiros. “Muitas vezes, o produtor não faz as contas direito e acha que o negócio está prosperando, mas está se descapitalizando. Talvez a fazenda não esteja bem nem atualmente”, afirma o pesquisador Guilherme Malafaia, que coordena o Centro de Inteligência da Carne Bovina (Cicarne), responsável pelo estudo.
Segundo o especialista, a pecuária de corte ainda é muito carente em termos de gestão. “As anotações são precárias e não refletem o que está acontecendo no processo de produção, mascarando a situação. Às vezes ele só anota ‘gastei tanto e vendi a boiada por tanto’. Porém, a infraestrutura usada está se corroendo e precisa ser levada em consideração”, diz.
Além disso, segundo Malafaia, o futuro também vai exigir dos produtores aumento de produtividade e qualidade, rastreabilidade do negócio e bem-estar animal.
O desafio só será cumprido com a adoção de tecnologias de ponta. E está aí outro problema: o especialista afirma que há uma lacuna entre as tecnologias existentes e aquelas aplicadas na fazenda. “Muitos usam técnicas um pouco ultrapassadas de manejo e não adotam pacotes avançados. Ele precisa estar preparado para ter condições de dar resposta a essa demanda”, afirma.
Nesse ponto, pesa sobre o setor a falta de assistência técnica no Brasil capaz de abarcar mais produtores. “O Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural] é quem está puxando essa parte da educação e da transferência de tecnologia para o pecuarista e para a agropecuária como um todo”, comenta Malafaia.
Para muitos, no entanto, não falta só oportunidade, mas vontade de se melhorar. Segundo o pesquisador, o produtor ainda tem um padrão cultural muito extensivo. “Eles ficam um pouco arredios, desconfiados das novas tecnologias. É algo que passa de geração para geração. Pensam: ‘na época do meu avô era desta forma, meu pai fazia desta forma, por que vou mudar agora?’”
Os pecuaristas menores, que não têm capital para acessar tecnologias e insumos mais em conta com a mesma rapidez dos grandes, podem recorrer ao associativismo, organizando-se em redes e cooperativas. Além disso, essa pode ser uma forma de acessar canais de comercialização mais restritos. “Existem soluções, mas elas precisam ser perseguidas”, diz.
Quem for incapaz de se adaptar às mudanças está fadado a ficar para trás, pontua Malafaia. “A tendência é que a saída desses produtores dê lugar à pecuária corporativista, como chamamos. Grandes corporações produzindo com alta eficiência e padrão tecnológico”, finaliza.
Fonte: Canal Rural