14/10/2020

08:26

Pesquisadora reforça papel do “boi bombeiro”, mas defende equilíbrio no Pantanal

Segundo especialista da Embrapa, gado auxilia na redução da matéria seca, mas excessos na lotação de animais podem prejudicar pastagens

Embora polêmica, a expressão usada pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, de que o gado age como “bombeiro” no Pantanal, tem embasamento científico. A ideia, inclusive, foi reforçada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, nesta terça-feira (13/10).

Segundo a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Fabiana Villa Alves, o termo foi originalmente cunhado pelo pesquisador e professor aposentado da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Arnildo Pott.

“Quando falou em ‘boi bombeiro’, ele se referia à questão de que o bovino no Pantanal tem um papel fundamental justamente na eliminação da macega, aquele pasto ou capim que fica seco”, destacou Fabiana, durante live promovida pela Revista Globo Rural para discutir a sustentabilidade na pecuária, nesta terça-feira (13/10).

Fabiana explica que, com 98% de pastagens nativas e animais adaptados a pastar em áreas alagadas, a produção de bovinos no Pantanal possui características únicas para a criação de gado e que não são replicáveis a nenhum outro lugar do país.

“O bovino, no Brasil, não quer dizer só dinheiro, não é só suporte para nossa economia nacional. Ele é um mantenedor e um conservador de áreas”, defende a pesquisadora, para quem a ministra foi mal interpretada. “Temos uma desconexão entre o que a ciência produz a respeito da nossa agropecuária, o que é repassado para sociedade e o que a sociedade civil consegue entender”, avalia Fabiana.

Equilíbrio

O fato de o boi ter papel importante no combate ao fogo no Pantanal, contudo, não deve ser justificativa para o aumento desenfreado do rebanho no bioma, ponderou a pesquisadora da Embrapa. Segundo Fabiana, a palavra chave nesse assunto é “equilíbrio”.

“No caso do Pantanal, há toda uma composição, que inclui áreas mais altas, áreas alagáveis, e tudo isso influencia na capacidade de suporte. Então, não adianta querer colocar mais animais para não ter fogo que o que você vai ter é erosão da pastagem, degradação de solo e uma série de outros problemas”, alertou a pesquisadora.

Ela também ressalta o papel da sustentabilidade nesse processo. “Aí é que vem a questão técnica, de se fazer correto. E isso se chama sustentabilidade: você ter uma pastagem que não se degrade com dois ou três anos de uso. A pastagem é perene, o capim é perene”, conclui Fabiana.

O boi é como o fogo

“O boi faz esse papel de limpeza, mantém a pastagem baixa, evitando que o fogo se desenvolva com rapidez e seja fácil para se controlar”, explicou na live Wolney Cesar Felipe, gerente de operações florestais da fazenda Santa Verginia, a primeira a implementar o projeto de carne carbono neutro desenvolvido pela Embrapa.

Ele compara a ação do gado à queima controlada no combate aos incêndios no Pantanal. “A queima controlada é você queimar para não queimar. Antes de o fogo chegar, você queima com cuidado o material combustível, evitando que alguma faísca ou um raio queime todo aquele material”, observa Wolney.

Ele conta que a fazenda Santa Verginia também foi vítima dos incêndios que assolam Pantanal. “Por causa de um vizinho que queimou, fez fogo em uma chácara, o fogo se espalhou”, conta Wolney, revelando que as equipes de combate ao incêndio levaram um dia e meio para controlá-lo.

Mesmo sem apresentar provas, Wolney estima que “95% dos incêndios” começam por ação de “motoristas de caminhões que jogam chipa de cigarro na beira da estrada”. “Essas pessoas não conseguem entender o que estão fazendo. E essa chipa, com material seco e temperatura de 50ºC, pega fogo em tudo”, afirma.

 

Fonte: Revista Globo Rural

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