A manutenção de qualquer atividade produtiva depende basicamente da eficiência do sistema de produção animal, que pode ser traduzida pela maior produtividade com o menor custo possível. Na atividade leiteira, a nutrição animal é o principal fator da eficiência do sistema de produção, pois é a maior responsável pelo nível de produção e pode representar até 70% dos custos (figura – 1). Portanto, se pode afirmar que, quanto mais eficiente for à nutrição animal de um rebanho, mais eficiente será o sistema de produção de leite.
A composição do leite de vacas leiteiras é determinada por vários fatores, como raça, estação do ano, genética, estágio de lactação, sanidade e nutrição animal. As tendências atuais da comercialização do leite demandam a obtenção de certos produtos lácteos, em geral influenciados pela composição do leite, diretamente correlacionada à nutrição dos animais. A gordura é o componente de maior variabilidade do leite, podendo variar de 2% a 5%. Essa porcentagem é fortemente influenciada pela genética, fatores nutricionais e fatores ambientais.
Figura 1: A nutrição animal é o principal fator da eficiência do sistema de produção, podendo representar ate 70% do custo de produção.
A gordura, a proteína, o fósforo e o extrato seco desengordurado são as variáveis de maior importância econômica, servindo de critério para o pagamento do leite em muitos países. Algumas medidas podem ser tomadas para alterar a porcentagem de sólidos no leite. Como:
Relação volumoso: concentrado
A explicação tradicional é a de que um aumento no concentrado na dieta de vacas leiteiras que ultrapasse 50% reduz a concentração de gordura do leite em função de uma alteração ruminal. O substrato ruminal com maior concentração de concentrado proporciona uma maior concentração de ácidos graxos voláteis, que reduzem o pH do rúmen para menos de 6,0, acarretando uma menor degradação da parte fibrosa da dieta.
Quantidade e fonte de proteína
Esse assunto tem sido muito discutido e verificou-se que a porcentagem de proteína do leite é aumentada quando é também fornecida em maior proporção na dieta. Esse dado é ainda mais concreto quando a fonte de proteína administrada é resistente aos microrganismos do rúmen. Uma maneira de fornecer proteínas não degradáveis no rúmen aos animais é a utilização de grãos que sofrem tratamento térmico na formulação de dietas. Deve-se ter cuidado nesse processo, pois o excesso de calor pode provocar uma reação indesejável, como a reação de Maillard ou caramelização, que torna a proteína indisponível para o animal mesmo depois de passar pelo rúmen.
Quantidade e tipo de fibra
Como regra geral, as dietas devem conter um mínimo de 28% de FDN, sendo 75% deste proveniente de forragens não finamente moídas (fibra efetiva).
Outro aspecto nutricional relacionado com a gordura do leite é a quantidade de fibra efetiva. A fibra efetiva é responsável pela manutenção do pH ruminal acima de 6,2 através do estímulo à ruminação, que provoca um aumento na produção de saliva e na liberação de tamponantes. A dieta deve conter no mínimo 22% de fibra efetiva, para que apresente efeito sobre as bactérias celulolíticas, sensíveis a baixo pH. Desta forma, o aproveitamento e a digestibilidade da porção fibrosa da dieta é maximizada e convertida em maior produção de leite de melhor qualidade.
Aditivos
Os tipos de aditivos mais comuns utilizados visando melhorar o desempenho produtivo de ruminantes que influenciam os teores de gordura do leite são os tamponantes e os ionóforos ou modificadores ruminais.
Os tamponantes como bicarbonato de sódio minimizam a queda do pH ruminal, evitando acidose ruminal quando dietas com alta proporção de concentrados são fornecidas para os animais, mantendo ativas as bactérias que fermentam a fibra. Assim, os níveis de ácido acético (precursor de gordura do leite) não são reduzidos e não afetam o teor de gordura no leite.
Os ionóforos diminuem os teores de gordura do leite. Sua ação por meio da seleção de algumas bactérias ruminais que melhor convertem os alimentos em nutrientes, reduzindo a produção de gás carbônico e metano no rúmen, promove um aumento do ácido propiônico (precursor de proteína do leite) e uma redução do ácido acético. Dessa forma, existe um aumento na produção de leite, porém com teores menores de gordura. O conhecimento dos fatores que influenciam a composição nutricional do leite traz algumas vantagens ao produtor. Trata-se de uma ferramenta importante na avaliação nutricional da dieta, podendo levar à informações sobre a eficiência de utilização de nutrientes e sobre a saúde animal.
Assim, o produtor pode e deve adotar boas práticas de manejo nutricional que possibilitem conforto, saúde, acesso fácil à alimentação e dietas bem balanceadas em proteína (níveis adequados de proteína degradável e não degradável no rúmen), energia, fibra, minerais e vitaminas. Essas práticas são pontos-chaves para a obtenção de leite com alto valor nutritivo que, aliado às boas práticas de higiene e investimento em capacitação de mão-de- obra e capacitação técnica especializada, são primordiais para melhorar a qualidade do leite e, dessa forma, encarar o sistema de pagamento por qualidade como uma maneira real de agregar valor a seu produto.