Os aminoácidos são os formadores das proteínas e vários deles não são sintetizados pelos animais, assim, caso não suplementados, impedem com que os suínos alcancem o desempenho esperado…
Introdução
Os aminoácidos, unidades básicas que formam as proteínas corporais, podem ser encontrados em todas as matérias-primas que contém proteína. Entretanto, diferentemente dos vegetais, os animais não podem sintetizar todos os aminoácidos para atender suas exigências, por isto, devem, obrigatoriamente, estarem presentes na ração, atendidos basicamente pelos níveis existentes nas matérias-primas convencionais, como o milho e o farelo de soja, e uma vez identificados como limitantes para o desempenho animal, devem ser suplementados por aminoácidos industriais.
Classificação Nutricional dos Aminoácidos
Uma dieta à base de milho e farelo de soja (ou alimentos alternativos) não atende, em aminoácidos, as exigências identificadas em experimentos, como quantidade ideal, tornando-se limitante ao crescimento e produção, sendo chamado de aminoácido essencial. Aqueles presentes em quantidade suficiente ou até superior são classificados como aminoácidos não essenciais.
Existem 20 aminoácidos importantes para nutrição animal e 10 são essenciais para suínos: lisina (Lys), treonina (Thr), metionina (Met), triptofano (Trp), valina (Val), isoleucina (Ile), leucina (Leu), histidina (His), fenilalanina (Phe) e tirosina (Tyr). Autores citam a glutamina e a arginina como condicionalmente essenciais para leitões, porque a produção endógena não é capaz de atender às necessidades nutricionais daquela fase especifica. (Nogueira et al., 2012).
Quando uma proteína contém os aminoácidos essenciais na quantidade necessária, diz-se que esta apresenta um elevado valor biológico. Quando um ou mais aminoácidos essenciais estão presentes, mas em quantidades insuficientes, diz-se que a proteína tem um baixo valor biológico. O aminoácido que está presente em menor quantidade frente à necessidade é chamado de aminoácido limitante.
Mitchell (1964) explicou este fato pela primeira vez ao estabelecer o conceito de aminoácido limitante, ou seja, sua falta limita a produção de proteína animal e assim, sua suplementação resulta numa maior produção decorrente do aproveitamento ideal dos demais aminoácidos já presentes e que tiveram gastos energéticos em sua digestão e absorção.
Os ingredientes mais ricos em proteínas têm, em geral, preços mais elevados do que os alimentos com concentração calórica (carboidratos). Por esse motivo, é imprescindível que se atendam às necessidades animais de maneira mais ajustada e racional possível. Além desses fatos, o fornecimento inadequado de proteínas pode levar a um desempenho inferior dos animais, ocasionado por vários fatores, conforme haja excesso ou falta de proteínas.
Aminoácidos Limitantes para Suínos
A ordem de limitação dos aminoácidos varia conforme a espécie animal, ingrediente e idade. No caso dos suínos alimentados a base de milho e soja, a ordem limitante dos aminoácidos é: lisina, treonina, metionina+cisteína, triptofano e valina.
O Conceito de Proteína Ideal
O conceito de proteína ideal, proposto para o uso na nutrição animal, estabelece que todos os aminoácidos essenciais sejam expressos como proporções ideais ou percentagens de um aminoácido referência. Isto significa que as exigências de todos os aminoácidos podem ser prontamente estimadas a partir da determinação da exigência do aminoácido referência. Atualmente, o aminoácido utilizado como referência é a lisina (ARC, 1981; Parsons, 1994; Cuarón, 2000). Além disso, uma grande contribuição para a evolução da nutrição proteica de suínos foi a disponibilização dos aminoácidos sintéticos.
As exigências de lisina para suínos em crescimento têm sido estimadas em experimentos nos quais os níveis de lisina das rações foram obtidos por alterações nas proporções de milho e farelo de soja ou pela inclusão de lisina sintética sem ajuste nos níveis dos demais aminoácidos essenciais, o que resulta, quase sempre, em rações com deficiências em outros aminoácidos essenciais. Em rações para suínos, quando o nível de suplementação de um aminoácido essencial é inadequado e o de lisina suficiente, as respostas dos animais podem ser limitadas pelo aminoácido insuficiente, que passa ser o primeiro limitante. (Abreu, 2007).
Segundo Yen et al. (1986), o método mais adequado é a utilização do conceito de proteína ideal, que consiste que a mudança na concentração da lisina da ração deve ser acompanhada por uma alteração proporcional dos demais aminoácidos essenciais.
Figura 1. A figura do barril foi proposta por Liebig (1840), para ilustrar a “Lei do Mínimo”, segundo a qual “o desempenho animal está limitado ao aminoácido essencial em menor disponibilidade”. Cada tábua do barril representa um aminoácido e o conteúdo representa o potencial desempenho do animal. O aminoácido limitante da produção é o que está representado pela tábua no menor nível. Neste exemplo, a tábua mais curta do barril é o nível de lisina (Lys) que limita o nível de desempenho e se converte no primeiro aminoácido limitante. Corrigindo a deficiência deste, outro aminoácido passará a estar em menor nível. O desempenho animal (conteúdo do barril) vai gradativamente subindo à medida que vamos suplementando o nível de cada aminoácido.
Nutrição de precisão
Em nutrição de suínos, o conceito de nutrição de precisão significa adequar do nível de proteína bruta das rações para atender às exigências dos aminoácidos essenciais com exatidão e reduzir os custos de formulação utilizando toda tecnologia disponível. Os aminoácidos industriais L-lisina, L-treonina, DL-metionina, L-triptofano e L-valina são as ferramentas que tornam possível a aplicação desta técnica, pois possibilitam o balanceamento das rações com menor inclusão de ingredientes proteicos, resultando assim na diminuição do nível de proteína (Sá e Nogueira, 2009).
Desde que a exigência de cada um dos aminoácidos esteja atendida, a redução do nível de PB da ração não compromete o desempenho e não causará nenhum impacto produtivo (Silva, 1998). Algumas interações entre animal e alimento não podem ser ignoradas, pois implicam na disponibilidade dos nutrientes. A disponibilidade econômica dos aminoácidos industriais (lisina, metionina, treonina e triptofano), assim como a melhor avaliação dos ingredientes e dos requerimentos nutricionais, permitem aos nutricionistas formularem ótimas rações com menores níveis de proteína bruta. Normalmente a proteína é o nutriente mais caro da ração, e sua redução poderá ser uma das vias de possível melhoria dos custos de produção.
Considerações Finais
A redução do teor de proteína bruta das rações a partir do uso dos aminoácidos industriais é uma ferramenta nutricional viável para avaliar possível redução de custos de formulação, melhorar os resultados zootécnicos e reduzir a excreção de nitrogênio para o meio ambiente.
Para garantir o sucesso desta técnica, recomenda-se que as rações devam serem formuladas baseadas no conceito da proteína ideal.
Referências Bibliográficas:
ABREU, M. L. T. et al. Níveis de lisina digestível em rações, utilizando-se o conceito de proteína ideal, para suínos machos castrados de alto potencial genético para deposição de carne magra na carcaça dos 60 aos 95 kg. Revista Brasileira de Zootecnia, 2007.
ARC. The Nutrient Requirements of Pigs. Commonwealth Agricultural Bureau. Slough, UK. 307p. 1981.
BIOQUÍMICA 5 º Edição –Jeremy M.Berg – John L.Tymoczko –Lubert Stryer-Guanabara Koogan -2002
CUARÓN, J. A. Proteína Ideal en la Alimentación de Cerdos: Aspectos Práticos. In: Simpósio Sobre Manejo e Nutrição de Aves e Suínos. Anais…CBNA. Campinas, SP. p. 197-220. 2000.
DE MOURA, A. M. A. Conceito da proteína ideal aplicada na nutrição de aves e suínos. Revista Eletrônica Nutritime, v. 1, n. 1, p. 31-34, 2004.
MITCHELL, H. H. Comparative nutrition of man and domestic animals. Academic Press, New York, NY, 1964. PACK, M. Proteína ideal para frango de corte. Conceitos e posição atual. In: CONFERÊNCIA APINCO DE TECNOLOGIA AVÍCOLA, Curitiba. Anais… Curitiba: FACTA, p. 95 – 110. 1995
NOGUEIRA, E.T. Aminoácidos: essenciais para Suínos. Suinocultura Industrial, Edição 191, v. 08, p. 26 – 28. 2005
NOGUEIRA, E.T. Nutrição de aminoácidos para leitões: uma visão da indústria. In: IV Simpósio Mineiro de Suinocultura, Lavras, MG. Abril, 2012. Disponível em: <http://www.lisina.com.br/upload/Informativo_Nutri%C
3%A7%C3%A3o%20de%20aminoacidos%20para%20leitoes%202012.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2016.
PARSONS, C. M. et al. The concept and use of ideal proteins in the feeding of nonruminants. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 31, Maringá. Anais… Maringá: SBZ, p. 120-128, 1994.
ROSTAGNO, H. S. et al. Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos. Composição de alimentos e exigências nutricionais. 3.ed. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa. 252p. 2011.
SÁ, L. e NOGUEIRA, E.T. Atualização das relações valina e isoleucina com a lisina na proteína ideal para frangos de corte e suínos. 2010. Disponível em: <http://www.lisina.com.br/upload/Relatorio%20T%C
3%A9cnico_Rel%20Val%20e%20Iso%20com%20Lys_2010.pdf> . Acesso em: 13 nov. 2016.
SILVA, M. A. et al. Exigências nutricionais em metionina + cistina e de proteína bruta, para frangos de corte, em função do nível de proteína bruta da ração. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 27, p. 357-363, 1998.
SUIDA. D., 2001. Proteína ideal, energia líquida e modelagem. In: I Simpósio Internacional de Nutrição Animal. Anais… Santa Maria, RS, 2001.
YEN, H. T. et al. Amino acid requirements of growing pigs. 7. The response of pigs from 25 to 55 kg live weight to dietary ideal protein. Animal Production, v. 43, n. 3, p. 141-154, 1986.