11/11/2020

09:55

Ameaçadas, pastagens nativas podem ajudar na recuperação dos incêndios no Pantanal

Pesquisadora da Embrapa aponta redução nos custos e aumento de produtividade com o uso de espécies locais

Com alto teor nutricional e de desenvolvimento espontâneo, as gramíneas nativas do Pantanal, também atingidas pelo fogo que consumiu mais de um quarto do bioma, podem ser um elemento-chave para a recuperação e sustentabilidade da pecuária pantaneira nos próximos anos.

Com índices de proteína que chegam a ser até três vezes superiores às pastagens exóticas mais recomendadas na região, essas espécies representam grande parte da riqueza biológica do Pantanal e estão em constante ameaça pela competição com gramíneas invasoras.

“Tem muitas pastagens nativas que são de baixíssima qualidade e realmente não tem como produzir de maneira sustentável se não houver uma substituição, mas as gramíneas de parte úmida são de altíssima qualidade, então não tem sentido substituir”, observa a zootecnista e pesquisadora da Embrapa, Sandra Santos.

Há 34 anos trabalhando com o Pantanal, ela defende uma abordagem holística de cada propriedade no bioma, considerando as paisagens e a biodiversidade local. “O que caracteriza o Pantanal são essas paisagens, que são dinâmicas, e essa riqueza da fauna, cuja maioria das espécies são de influência de outros biomas”, aponta Sandra.

É o caso do Cambará, espécie da nativa da Amazônia e que, ao longo dos anos mais chuvosos, avançou sobre o norte do pantanal mato-grossense. Sem manejo, a espécie forma grandes árvores que se integram à paisagem local, resultando em florestas que não podem mais ser derrubadas.

“O que a gente vê é que muitas fazendas estão sendo abandonadas, principalmente no norte, porque elas se tornam improdutivas quando há muita invasão. A taxa de lotação e a capacidade de suporte das pastagens diminuem, e muitos vendem a propriedade”, explica Sandra, ao ressaltar que a situação tem sido usada como justificativa para introduzir espécies exóticas sem qualquer controle.

“Ter um gado que você consegue manejar as gramíneas naturais do Pantanal é uma coisa. Ter um gado que você extingue as gramíneas naturais e corta fitofisionomias mais florestais para substituir por gramínea exótica é outra coisa”, destaca o professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (PPGCDS-UnB), José Luis Eduardo Franco.

Ele também destaca o potencial produtivo a partir da recuperação de áreas degradadas e do manejo sustentável na região. “Para criar o gado com menos impacto ambiental, seja no Cerrado, Pantanal ou onde for, é preciso desenvolver técnicas de manejo que permitam criá-lo com boa produtividade sem devastar toda a paisagem. Nós temos uma boa legislação, o problema é ela ser cumprida”, destaca o pesquisador.

Sandra reconhece que o desafio não é fácil, sobretudo devido à heterogeneidade e às particularidades das pastagens encontradas no Pantanal.

“Dependendo da região, você tem vários tipos de pastagens que podem ser classificadas em três níveis diferentes de qualidade. Por isso, fizemos um projeto para valorar essas áreas úmidas, porque são as de melhor qualidade e, quando mal manejadas, também se perdem. E se não houver um trabalho para conservar essas pastagens, pode ser que elas se percam por conta das invasões de espécies mais agressivas”, destaca a pesquisadora.

Guia

Sandra também assina um guia para identificação de pastagens nativas do Pantanal, que foi lançado na terça-feira (10/11) pela Embrapa.

A publicação, de mais de 200 páginas, está sendo usada de base para o desenvolvimento de um aplicativo que auxiliará os produtores da região a identificar as pastagens locais com potencial econômico, fomentando o manejo sustentável do bioma na criação de gado.

 

Fonte: Revista Globo Rural

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