A Argentina se encaminha para fechar acordo com os credores internacionais e sair da moratória técnica, conforme anúncio feito pelo presidente Alberto Fernández e seu ministro de Economia, Martín Guzmán, e com isso voltaria a abrir as portas para a atração de investimentos. O primeiro projeto da lista envolveria aporte pela China de US$ 3,7 bilhões em quatro anos, para ampliar a capacidade de produção de suínos para 900 mil toneladas, que serão exportadas para o mercado chinês.
O secretário de Relações Econômicas Internacionais da Argentina, Jorge Neme confirmou à Globo Rural que o projeto de memorando de entendimento está sendo analisado pelo governo chinês. “Em princípio, temos o acordo entre as autoridades, mas ainda não assinamos”, disse ele.
Segundo Jorge Neme, a Argentina propôs três coisas: uma cooperação para o desenvolvimento produtivo; uma cooperação tecnológica para a saúde e o bem-estar animal; e um acordo geral para promover o relacionamento entre produtores e empresas e cooperativas argentinas. “É o que foi estabelecido até agora e está sob consideração pelas autoridades chinesas.”
O ministro explicou que o modelo é idêntico ao aplicado quando um empresário estrangeiro investe e se torna parceiro dos chineses. “Então, queremos que o empresário chinês que vier fazer investimentos tenha um parceiro argentino. É preciso haver parceiros argentinos, temos que fazer acordos de joint venture”.
A China é a maior produtora e consumidora de carne suína no mundo. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a produção chinesa neste ano atingir 36 milhões de toneladas, que correspondem a 37,5% das 95,9 milhões toneladas de carne suína que serão produzidas no mundo. No ano passado a produção foi de 42,55 milhões de toneladas, que correspondeu 41,7% das 101,9 milhões de toneladas produzidas no mundo.
A queda de 15% na produção chinesa se deve ao sacrifício de animais, por causa da peste suína africana (PSA), que elevou a necessidade de importações de 2,45 milhões de toneladas no ano passado para 4,4 milhões de toneladas neste ano, apesar da retração no consumo de 44,8 milhões de toneladas para 40,3 milhões de toneladas, conforme as estimativas do USDA. Desde o final de o final de 2018, quando surgiram os primeiros focos da doença, a China vem buscando parceiros para garantir o suprimento no mercado interno.
Segundo o Ministério de Relações Exteriores da Argentina, o país poderia chegar a produzir 900 mil toneladas de carne suína em um prazo de quatro a cinco anos, com um incremento de 300 mil matrizes. O investimento dos chineses geraria 9.500 novos empregos. No início do mês passado, a Chancelaria errou no número ao informar que a produção aumentaria a 9 milhões de toneladas, o que despertou o protesto das organizações ambientalistas, que se manifestam contrárias a que a Argentina se transforme em um “uma fábrica de porcos”.
No ranking de produtores mundiais do ano passado, a Argentina ocupava o 13º lugar com 1% participação de 630 mil toneladas. Atualmente, os argentinos estão projetando uma produção de 750 mil toneladas em 2020, com um consumo interno superior a 18 quilos por habitante/ano, bem abaixo dos 30 quilos per capita na China.
Dúvidas e gargalos
Para o presidente do Consórcio de Exportação de Carne Suína (Argenpork), que reúne os principais produtores de suínos do país, Guillermo Proietto, o acordo com a China ainda não conta com a participação do setor privado. “Está impulsionado pelo governo e não há nenhum contato de empresas chinesas com as argentinas, e não sabemos, por exemplo, o que os dois governos pretendem fazer na prática”, disse ele.
Segundo Proietto, há muitas dúvidas sobre o formato, como se haverá joint ventures ou empréstimos para as empresas e em que condições. “Creio que somente depois da assinatura do documento que autoriza o início das negociações, os empresários vão se sentar para ver como canalizar as intenções de investimentos no setor produtivo e industrial.”
O executivo disse que atualmente o setor tem gargalos na multiplicação da genética no rebanho e na capacidade instalada de abate, no processamento e no armazenamento a frio. “Toda a cadeia tem restrições e o mais saudável é que o crescimento seja gradual e organizado, sincronizado, para evitar desbalanceamento e problemas. As 10 plantas atualmente habilitadas para exportar ao mercado chinês sempre trabalharam para abastecer o mercado interno e na fabricação de embutidos. Todas precisam ter investimentos.”
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca da Nação informou que as exportações de suínos estabeleceram um novo recorde durante o mês de junho e fecharam o semestre com aumento de 55% em relação ao mesmo período do ano passado. Os embarques somaram 4.454 toneladas e a receita atingiu US$ 6,7 milhões. O principal destino foi a China, seguida pela Rússia e Hong Kong.
FONTE: REVISTA GLOBO RURAL