22/02/2018

09:39

Mudanças em inspeção suína propostas pelo USDA geram críticas

A proposta do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de alterar regras de inspeção de unidades de processamento de carne suína e permitir um maior ritmo de abate de animais vem gerando críticas de grupos de defesa do consumidor e de segurança alimentar. De acordo com as regras propostas pelo USDA no mês passado, o limite máximo de abate passaria de 1.106 para 1.295 animais por hora. O novo sistema também deslocaria inspetores do USDA da linha de processamento de carcaças para outras posições nas unidades. Isso, segundo a agência, daria aos fiscais uma melhor visualização das práticas de segurança alimentar.

Grupos de defesa do consumidor questionam se as companhias vão conseguir garantir um produto próprio para o consumo enquanto funcionários assumem tarefas que antes eram reservadas a fiscais do USDA. Ao mesmo tempo, grupos de defesa dos direitos dos trabalhadores alegam que um ritmo maior de abate vai exigir ainda mais dos funcionários, cujas tarefas já são difíceis e perigosas.

Empresas processadoras de carne e o USDA dizem que as propostas têm como objetivo aproveitar melhor os fiscais e a capacidade das unidades sem comprometer a segurança alimentar. Algumas companhias defendem ainda que unidades mais eficientes podem significar preços mais baixos de carne suína para consumidores. Mudanças similares foram adotadas pela indústria de carne de frango em 2014, e autoridades afirmam que também podem chegar à inspeção de carne bovina.

“Podemos usar de forma muito mais eficiente os funcionários que temos”, disse Paul Kiecker, administrador interino do escritório de segurança alimentar do USDA. Segundo ele, as mudanças permitiriam que os fiscais realizassem outras tarefas, como a inspeção sanitária das unidades de processamento. A agência considera isso mais eficiente para promover a segurança alimentar do que deixar fiscais em pontos específicos nas linhas de processamento de carcaças.

As mudanças se baseiam em um programa piloto de mais de 15 anos. O programa envolveu cinco plantas de suínos dos EUA autorizadas a processar a carne em velocidades 17% superiores aos padrões adotados pelo mercado. Essas unidades são controladas por empresas como Smithfield Foods, Hormel Foods e JBS.

A JBS não respondeu a pedidos para comentar o assunto. Smithfield e Hormel encaminharam as perguntas para o Instituto Norte-Americano da Carne, que representa empresas do setor. Mark Dopp, chefe de regulamentação do instituto, disse que, de acordo com as novas regras, fiscais “não têm de ficar na linha de produção todos os minutos, todos os dias”.

James E. Rogers, um ex-funcionário do USDA que agora é diretor de segurança alimentar do grupo de defesa do consumidor Consumer Reports, diz que “substituir inspetores por funcionários das companhias é uma proposta assustadora”.

Outros grupos dizem que as mudanças podem resultar em problemas similares aos identificados em unidades de processamento de carne de frango. Segundo a Food & Water Watch, 30% das unidades que usaram menos fiscais federais excederam o limite do USDA para contaminação por salmonela entre outubro de 2016 e dezembro de 2017. Já entre as plantas que continuaram operando sob o sistema tradicional, essa parcela foi de 13%.

O USDA diz que o alto porcentual se deve a uma companhia. Mais da metade das unidades que ficaram abaixo do padrão eram operadas pela Sanderson Farms, de acordo com a Food & Water Watch. O CEO da Sanderson Farms, Joe Sanderson, disse que isso ocorreu porque a empresa não reconfigurou suas linhas de produção de acordo com os padrões do USDA, e adotou a maior parte das medidas para evitar contaminação por salmonela depois que os fiscais já tinham colhido amostras.

Uma auditoria realizada em 2013 pelo USDA descobriu que fiscais permitiram que as unidades de processamento de carne suína participantes do programa piloto operassem sem supervisão adequada, o que resultou em altas taxas de violações de regras em algumas plantas. Críticos dizem que as companhias que adotarem as mudanças não serão obrigadas a oferecer treinamento extra a seus funcionários. “Os indícios disponíveis sugerem que essas mudanças vão enfraquecer a segurança alimentar”, disse a representante republicana Rosa DeLauro, de Connecticut.

Grupos de defesa dos direitos dos trabalhadores dizem que um ritmo maior de abate vai comprometer a segurança dos funcionários. As empresas, porém, garantem que não vão aumentar o ritmo sem contratar mais trabalhadores.

 

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