14/04/2020

16:14

Quais os impactos do coronavírus para a suplementação de bovinos?

No dia, 18 de março, a vice-presidente executiva da Asbram, a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais, Elizabeth Chagas, concedeu entrevista ao Giro do Boi para tratar dos principais impactos da pandemia do coronavírus para o setor de suplementação alimentar da pecuária brasileira.

“Estamos aí com o coronavírus, o dólar disparando, a bolsa caindo. São mil coisas acontecendo, esse ano o mundo realmente está frente a uma crise muito grande. Você vê que os mercados estão fechados, os Estados Unidos fecharam espaço aéreo para os aviões que vêm da Europa, a não ser que sejam cidadãos americanos, a Europa fechou para todo mundo, a não ser que seja cidadão europeu entrando. Então tudo isso gera uma instabilidade econômica, você tem um dólar hoje num patamar que eu nunca imaginei. Mas a matéria-prima é em dólar. O Brasil não produz, produz em pequena quantidade. Nós temos um negócio chamado fosfato bicálcico, é ácido fosfórico. O Brasil não produz enxofre, o Brasil não tem rocha fosfática em quantidade pra fazer. Então aumenta (o preço) lá fora, aumenta imediatamente aqui no Brasil. Você tem também uma ureia que hoje deixa de ser produzida no mercado nacional, a última fábrica que nós tínhamos de ureia fechou semana passada, a Petrobras”, contextualizou a executiva.

Entretanto, Chagas tranquilizou os produtores em relação à postura das indústrias brasileiras do setor porque, de acordo com ela, estão preparadas para enfrentar as adversidades. No caso da ureia, por exemplo, a profissional informou que as indústrias da Asbram se anteciparam à questão e estão abastecidas, inclusive com companhias produzindo no exterior e trazendo ao Brasil.

“A indústria tomou muito cuidado, as indústrias produtoras de suplementos minerais. Mas nós temos que trazer novos fornecedores, então nós fomos ao Mapa, falamos com a ministra Tereza Cristina, que nos recebeu super bem e que se dispôs a fazer os registros novos de fornecedores. Mas tudo isto demanda tempo e demanda dinheiro. Então vamos pegar o caso do fosfórico, P2O5, que é a nossa principal matéria-prima. Você pega um MAP, subiu 40% em dias. […] Vai aumentar no mercado externo, não tem como, como vai subir o preço do fertilizante, já subiu”, disse Elizabeth, que ainda não arrisca projeções do impacto preciso desta alta no preço final do produto.

Chagas recomendou ao produtor que sobretudo neste momento não compre os insumos “da mão para a boca”, ou seja, que faça as aquisições antecipadas para evitar problemas. “O que eu quero dizer pra vocês é que a gente está vivendo um momento de grande instabilidade. Esta é a realidade da coisa. Então hoje, que nós estamos na frente quase de uma mudança de estação, se eu puder dar um conselho para que você trabalhe em cima do seu pecuarista: planeje. Ele vai ter que planejar, ele vai ter que comprar os insumos com antecedência, ele vai ter que ter os insumos guardados”, indicou.

“Comprem suplemento, estoque um pouco, ponha dentro de casa, vai ter que subir (de preço), é impossível. A gente tem uma demanda lá fora grande, a gente tem um problema sério do dólar porque ele vai perdurar. Ele não veio pra baixar tão cedo, estes R$ 5 eu acho que a gente vai ver por um horizonte longo e tem mil reformas, que nós não falar de governo, que precisam ser feitas. Mas hoje a grande coisa que nós podemos falar é que compre, planeje, saiba o que você vai usar na entressafra. Prepare seu armazém e lembre-se que o boi não vai abrir o armazém – ele não tem a chave. Você tem que fazer hoje um trabalho, prestar atenção se aquilo que você comprou, o seu animal está ingerindo todo dia. A quantidade certa, pesar, porque muitas das nossas fazendas, a maior parte, não têm balança. Quer dizer, você faz no olho a checagem para ver se o boi está gordo ou magro. A gente vai vai ter tempos um pouco mais difíceis, mas eu acho que nós temos muito mais a lucrar a longo prazo do que, por exemplo, o que está acontecendo no hemisfério norte, na Europa, nos EUA, lá a coisa é muito mais complicada. Olhando para frente, existe céu de brigadeiro”, acrescentou a executiva da Asbram.

Chagas reconheceu, em meio à entrevista, de que está animada mesmo em meio aos obstáculos. “Eu gosto muito de desafio, eu gosto de crise porque na crise todo mundo que é competente sai na frente. Eu digo que crise é só tirar a letra S e fica crie. Então nós temos que criar, nós temos que ousar, o momento é de muito planejamento e usar a tecnologia disponível”, completou.

Além disto, a executiva espera que da recuperação da pandemia na China, o que já está ocorrendo neste momento, haja uma consequência positiva para o Brasil. “Eu tenho um lado positivo, se você quer saber. Porque a China está começando a abrir mercado, o chinês quer voltar a comer. E de onde vem a comida da China? 40% da comida de lá vêm deste país (Brasil). Então nós temos um momento de dificuldade agora, mas eu antevejo um segundo semestre muito melhor do que este primeiro semestre. É uma questão de planejamento estratégico, faça conta. O pecuarista hoje que não fizer conta como o agricultor faz não vai pra frente”, advertiu.

O MELHOR NEGÓCIO DO AGRO
Chagas contou em sua entrevista que mesmo que o setor da pecuária consuma entre 6 a 7% de todo o composto NPK comercializado no Brasil, com a agricultura consumindo todo o resto, o grupo carnes está em segundo lugar na lista dos produtos mais exportados pelo país. Isto mesmo em um cenário em que, dentro do rebanho bovino brasileiro, de cerca de 214 milhões de cabeças, somente 70 milhões recebem suplementação da forma adequada. Isto aponta, segundo Chagas, para uma oportunidade.

“O item número um da balança comercial brasileira é a soja. Só que o item número 2 é carnes. Então existe aí uma incompatibilidade, é bom a gente olhar. Eu costumo dizer o seguinte, o melhor negócio do Brasil nos próximos trinta, quarenta, cinquenta anos, com certeza, é o agronegócio brasileiro. Mas sabe qual é o melhor negócio do agro para frente? É a pecuária, porque tem muita coisa pra ser feita, a gente está num processo de mudança […] Está provado que o pecuarista que investiu R$ 1 em suplementação correta consegue retornar com R$ 3”, contabilizou Chagas.

Fonte: Giro do Boi

 

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