24/08/2020

15:41

Startup brasileira cria controle biológico para carrapato bovino

Um dos principais problemas da pecuária brasileira é o carrapato. Mas uma solução biológica viável, que pode substituir o uso de químicos e ser aplicada em animais e pastagens – onde encontram-se cerca de 9% dos carrapatos –, tem demonstrado resultados efetivos.

Desenvolvido pela startup brasileira de biotecnologia Decoy Smart Control, o carrapaticida biológico têm como princípio ativo esporos de fungos inimigos naturais do parasita.

Por ano, a pecuária brasileira acumula perdas com a praga que chegam a R$ 10 bilhões, segundo dados do Ministério da Agricultura. Além de aumentar produtividade e bem-estar animal, bem como reduzir a mortalidade, o produto biológico dispensa o uso de químicos agressivos aos bovinos e ao meio ambiente, sem deixar resíduos no leite ou na carne.

Outra vantagem do produto biológico é que os carrapaticidas sistêmicos – que tendem a ser mais usados pelos produtores – são ainda mais prejudiciais para a qualidade do leite do que os de tópicos, pois têm um ciclo maior dentro dos animais.

“O uso de químicos tem uma série de efeitos colaterais negativos, que é o descarte do leite ou a própria intoxicação do rebanho. Então, o produtor percebe a vantagem que o biológico tem e contribui com uma ajuda de custo para fazermos a avaliação e os resultados do estudo”, explica Lucas von Zuben, CEO da Decoy.

A empresa desenvolveu uma tecnologia que escalona a capacidade de produção da solução: na sua biofábrica de 80 m², é possível fabricar produtos que atendam cerca de 1,2 milhão de cabeças de gado por mês.

A tecnologia de produção e as espécies dos fungos usados ainda são segredos industriais, e o produto está em processo de regulamentação junto ao Ministério da Agricultura para iniciar a comercialização.

Até agora, a tecnologia já está em uso por cerca de 400 pecuaristas – totalizando mais de 35 mil cabeças – e pretender fechar o ano com mil parcerias. Dentre os parceiros, estão desde pequenos criadores de leite orgânico da Nestlé, Associação Brasileira de Angus e a Coopatos Cooperativa Agropecuária.

Segundo Antônio Villaça, gerente do Departamento de Relacionamento com o Cooperado da Coopatos e responsável pela Estação Recriar, em Patos (MG), a dificuldade em encontrar soluções para o desafio do carrapato faz com que se recue no potencial genético do rebanho temendo não conseguir combater os ectoparasitas, além do atraso no desenvolvimento das novilhas e queda na produtividade dos animais.

“De um lado, ele é pressionado pela indústria de laticínios ou até pelo Ministério da Agricultura para produzir um alimento seguro, com qualidade e menor índice de pesticidas. Do outro, tem que lidar com uma praga que está cada dia mais forte, causando mais problema para propriedade”, ressalta.

No entanto, a chegada do produto biológico tem mudado a perspectiva de enfrentamento do problema. “Vindo uma solução desse nível que possa ter um baixo risco para o produto para o leite ou para a carne, potencialmente é uma solução bastante promissora”, afirma.

“Com o mundo tendendo a melhorar a qualidade do leite como um todo e exigências ao produtor e vindas do consumidor, a gente tem que realmente mudar o formato que a gente utiliza o tratamento com os carrapatos”, destaca.

Diretor-presidente da Agrindus, produtora de leite classe A e derivados, Roberto Jank Júnior diz que a maior preocupação da indústria é com as exigências de controle dos processos da produção e do bem-estar animal.

Segundo ele, o momento mais importante para o controle de carrapatos na criação de gado é no pré-parto, que é onde se evita o uso de químicos nas vacas para reduzir as chances de aborto, encurtamento de gestação ou problemas no pós-parto.

O segundo momento mais importante é na introdução da convivência com o carrapato dos bezerros desmamados, em que é preciso ter um controle da população de parasitas, sem eliminá-los por completo para os animais tenham contato e possam adquirir certa resistência.

“O produto está muito em linha com o que a gente está buscando e com o que o nosso consumidor está pedindo. Porque o nosso consumidor quer saber a origem do que está comendo, quer segurança alimentar. Então, o mais importante que a gente tem a oferecer é a rastreabilidade de todo o processo”, afirma Jank.

Criador de gado de corte e melhorista de Semental sul-africano na região de El Dourado do Sul (RS), João Queiroz tem um confinamento de seis mil cabeças para abate. Há 12 anos, Queiroz mudou o plantel de São Paulo para criar bovino 100% europeu, que tem um valor de mercado maior.

“A grande razão pela qual eu mudei para o RS, além do clima, que é onde o gado europeu se adapta melhor, também era pelo carrapato. Teoricamente, aqui havia menos carrapato, mas eles me seguiram até aqui”, conta o pecuarista, que perdia de 10 a 30 bois por ano pelo parasita, além do custo de, em média, três aplicações de pesticidas por mês nos animais.

Queiroz já havia buscado defensivos biológicos para carrapato, sem sucesso. Até que conheceu o produto da Decoy por uma indicação. “A diferença é drástica da saúde do meu gado hoje em dia. Nunca mais eu perdi nenhum boi”, conta ele, que há um ano começou a testar o produto em um lote e depois aderiu em toda fazenda.

Custo

O protocolo padrão do produto prevê uso a cada 20 dias nos animais, o que sairia a um custo de R$ 4,50 ao mês (R$ 3/dose) e uma vez por mês na pastagem (R$ 25/hectare/mês). Segundo o CEO da Decoy, além do custo com o químico ser maior, ainda entra na conta o descarte de, em média, 3 litros por animal com o uso de produtos convencionais.

“Nos primeiros dias de ‘não-descarte’ de leite (com o uso do biológico), você já paga isso. Fora o risco de intoxicação dos animais, em que você pode perder um bezerro, que gera um risco elevadíssimo. Esse preço está completamente dentro da realidade”, explica.

Além disso, a tecnologia promove o controle geracional, em que é possível reduzir a população do carrapato como um todo dentro da propriedade, quando o controle é feito no animal e na pastagem. Isso porque os esporos dos fungos contidos no produto são capazes de parasitar o carrapato em qualquer estágio evolutivo (ovo, larva, ninfa ou adulto).

“O carrapato não é um problema do boi, e sim da propriedade. O produtor só trata o animal, enquanto 95% dos carrapatos estão na pastagem”, salienta.

 

Fonte: Revista Globo Rural

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Comentários:

José Filgueiras filho disse:

Gostaria do contato para informaçõestécnicas e comerciais do produto para erradicação biológica do carrapato. Meu telefone é (22)981720798 ou (22) 991029364. Aguardando retorno

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